DIA 1 DE NOVEMBRO, VEJA A VERSÃO OFICIAL DOS CONTOS
Horror em Nanquim é um projeto voltado para o halloween que reúne artistas da Modelo Design Escola de arte, sendo participantes do Projeto Paralelo.
O objetivo do projeto é criar exposições com a temática sombria tendo suas artes preto e branco, e através destas exposições gerar livros de histórias que possuam sua continuidade no formato áudio livro.
Quando o ar se impregnar com o aroma de açúcar queimado, logo vocês perceberão que já é tarde demais, algo lhes foi tomado e nunca mais o terão de volta.
E o que antes era um prenúncio com um gesto de carinho e aconchego, se tornará uma lembrança amarga. Uma punição pelos seus erros, que falharam em proteger aqueles que mais amam.
E ela os levará, os pequenos para denso o véu da noite, em meio a cânticos, danças e sabores açucarados. Pois sua busca é incessante e incompreensível.
Arte, Textos e Locução Conto - Emílio Catrufo
Locução Sinopse - Rafaela Mozz
Clique na seta ao lado do texto, para visualiza -lo por completo.
Souling, soul cake ou até mesmo Pão por Deus, são nomes para uma mesma iguaria, distribuída às crianças e aos desafortunados em troca de orações pelos mortos em datas sagradas. Uma tradição que se perde ano após ano, e um significado que se distorce como fumaça escura de açúcar queimado.
Quando a noite chega, carregada com o cheiro doce no ar, os sentidos nos levam àquele momento gostoso da infância, em que as avós preparavam carinhosamente um bolinho para a família. Não se deixe enganar, pois, em meio à doçura, há uma sombra que espreita os desavisados.
A tenra infância, repleta de sonhos e magia. As crianças fantasiadas brincam, cantam e dançam, batendo de porta em porta e pedindo doces, uma tradição de séculos. Mas a verdadeira história que origina esse costume, aos poucos, está sendo perdida. Adultos tornam-se céticos e insensíveis, deixando-se cegos. O olhar e o respeito às tradições também são formas de se proteger de um perigo invisível.
Enquanto isso, uma figura desliza em meio à escuridão, como se fizesse parte dela, vestindo um manto negro, um colar adornado de abóboras gargalhantes e uma expressão enigmática e perturbadora.
Silenciosa e sorrateira, ela aparece de forma gentil, com passos leves como uma apresentação de balé. E, nesse momento, com um sorriso cativante e uma voz amorosa, quase cantante:
— Olá, pequeninos, hoje é dia de honrar aqueles que se foram. Olhem o que trouxe para vocês: guloseimas! De todos os tipos e sabores! Eu mesma as fiz.
E, como mágica, ela puxa de dentro de suas vestes pães doces, caramelos, chocolates e todo tipo de gostosura impossível de recusar.
— A única coisa que lhes peço é que orem por quem já não está mais entre nós, pois a saudade consome mais do que a fome.
Alguns pais que ali estavam estranharam e puxaram seus filhos para perto de si; outros, mais intrigados, ouviam com atenção. No entanto, apenas um ou outro, de fato, respeitava o que era dito.
Foi então que um jovem rebento pediu um dos doces que não tinha sido oferecido, e lhe foi prontamente negado.
— Meu jovenzinho, este não posso lhe dar, pois me é de grande estima e valor. Uma lembrança muito querida. Que tal este? — disse, puxando um lindo e saboroso pé de moleque.
A criança imediatamente se enfureceu e começou a chorar e espernear. Seus pais foram ao seu socorro instantaneamente.
Enquanto tentava acalmar o precioso filho, a mãe lançou um olhar fulminante para o esposo, exigindo alguma atitude, e este prontamente atendeu.
Repleto de arrogância e ostentação, sacou e exibiu notas e mais notas de dinheiro, chegando a valores exorbitantes. Sem esperar, tomou o doce das mãos da doceira e o jogou nas da mãe, para que o filho se acalmasse.
Uma fúria tomou o rosto da doceira, mas, em microsegundos, logo voltou a sorrir — porém, um sorriso com olhar distorcido. Sem se despedir, virou-se e sumiu na noite, sombras adentro.
Horas mais tarde, a família abastada estava a caminho de casa, arrotando desprezo àquela noite que os outros julgavam sagrada. A criança que havia pedido o doce precioso já o tinha largado de lado e exigia que os pais parassem em uma doceria de verdade.
Os pais não o ouviram protestar no banco de trás do carro, por estarem concentrados demais em disputar quem ofenderia mais aquela comemoração.
Então, não perceberam que, das sombras, saía uma mão com garras, que cobria o rosto da criança, abafando seus gritos, e a puxava para um escuro infinito. Sem deixar mais nenhum vestígio, além de um cheiro doce no ar.
Final de ano letivo. Estudantes nos corredores da escola em alvoroço com os preparativos da cerimônia de encerramento de cursos.
Entre todos, uma jovem, no entanto, mostrava-se arredia, preocupada que estava por ainda não ter feito o discurso de encerramento, encarregada que fora de apresentá-lo.
Ela mesma não entendia o porquê desse seu bloqueio uma vez que era a melhor aluna da classe no desenvolvimento de textos.
Para as colegas e amigas dizia já ter concluído o discurso.
Mas não era verdade. Ela mentia.
Tal atitude a colocou em preocupante estado de alucinação: começou a ver e ouvir coisas. Nesse desespero, correu ao banheiro para um banho de alívio. Despiu-se, fitou-se no espelho e ...
ESPANTO!
Ali, refletido no espelho não era o seu próprio rosto que via. Mas sim a imagem de uma mulher, desconhecida, de aparência sinistra, cujos traços eram escondidos por uma vasta cabeleira loira.
A jovem desmaia, recompondo-se minutos depois sob os cuidados de suas amigas que a tranquilizavam tentando explicar - e entender – aquele estranho e bizarro acontecimento.
Arte - Salviano borges Texto - Antonio lauriello Locução - Francisco Olivatto
Clique na seta ao lado do texto, para visualiza -lo por completo.
Final de ano letivo. Os corredores da escola em alvoroço com os preparativos da cerimônia de encerramento de cursos, programado para às dez horas da noite.
Jovens, preocupados com a organização do salão de festas, palco, plateia, trocavam ideias, discutiam, riam, brincavam, conversavam de tudo, sobre tudo e todos.
Maria Augusta, no entanto, mostrava-se arredia, isolando-se do ambiente, dos colegas e até mesmo das amigas mais chegadas que, indignadas, buscavam o porquê daquela atitude. Afinal de contas, Maria fora sempre amigavelmente cordial.
Diziam que ela estava preocupada com o discurso feito para ser lido na cerimônia de entrega dos diplomas. Não acreditavam que ela já o fizera, embora afirmasse que sim, há mais de 15 dias.
De fato, Maria não o fizera. Sequer começara.
E por quê?
Ela mesma não sabia responder, mesmo porque dominava a escrita, sendo, inclusive, apontada como a melhor aluna da classe nesse quesito.
Há meses vinha tentando desenvolver o texto, mas sempre que começava algo estranho a impedia: vozes, gritos, barulhos invadiam sua cabeça, deixando-a carente de energia física e mental.
Sentia-se observada. Via imagens, figuras pouco claras, de difícil reconhecimento, vultos.
Toda vez que se via nessa situação – já frequente – Maria Augusta recolhia-se no banheiro, onde percebia-se mais segura.
Ali, despia-se para um breve banho, para aliviar as preocupações, os pensamentos negativos, refrescar o ânimo e a capacidade de raciocínio.
Acreditava que assim, isso a tranquilizaria, trazendo de volta o seu bem-estar mental para, então, compor o discurso.
Porém isso não ocorreu.
No exato dia do encerramento letivo, toda aquele mal-estar toma conta de Maria que, muito perturbada, dirige-se ao banheiro na esperança de encontrar ali a tranquilidade necessária para realizar o discurso que se comprometera a fazer.
Afobada, bate a porta do banheiro, chuta o vaso sanitário, dá descarga, emite berros e palavrões, coloca-se em frente ao espelho.
Porém, ali, não se vê refletida. A imagem não era a dela. Era sim a de uma outra pessoa: uma mulher: de rosto envelhecido, olheiras, pálida, com longos e volumosas mechas de cabelo loiro.
Maria desfalece, vindo a recompor-se horas depois, no afago de suas amigas.
Irrefletidamente, com o olhar vago pronuncia: “- O DISCURSO, o discurso... Preciso fazer... acabar”.
“- Calma, Maria. Não se preocupe. Tá tudo OK...”, diz a amiga. “-Você fez. Pena não ter apresentado. Mas a sua amiga acabou de lê-lo, fez tudo direitinho, como você a orientou e tá sendo bastante aplaudida”.
“- Quê? Amiga? Meu discurso? Leu? ...Que amiga?”
“ – Não sei o nome dela. Mas ela representou você muito bem, a começar pela semelhança dela com você. Não fosse a loira cabeleira dela, pensaríamos que era você quem realmente estava lá no palco, lendo o belo discurso que preparou”.
“ – EU?”.
Família se aventura nas profundezas do Lago Ness, na Escócia, em busca de evidências da existência de suposto monstro, para muitos considerado irreal, lendário.
Ao longo da investigação descobrem que o monstro realmente existe: era majestoso, feroz, muito mais perigoso do que imaginavam.
Passam a viver uma jornada aterrorizante enfrentando desafios assustadores, lutando pela própria sobrevivência.
Arte - Matheus Rafaél Texto - Antonio lauriello Locução - Francisco Olivatto
Clique na seta ao lado do texto, para visualiza -lo por completo.
Indiferente às ridicularizações, ao não serem levados a sério, casal e filho decidem partir para uma aventura bastante original: - caçar (ou pescar) o famigerado Monstro do Lago Ness, cuja existência – ou não – há muito era registrado nas histórias e crendices populares.
Convencidos da realidade do tal monstro e resolvidos tirar a limpo tais incertezas, partiram para o local onde – diziam – de tempos em tempos NESS se fazia observar, surgindo repentinamente, envolvendo de medo e pavor todos que alí, próximos ao grande lago, buscavam indícios, sinais, vestígios ou circunstâncias que sugeriam ou comprovassem a existência da criatura-monstro.
E assim aconteceu:
- A superfície calma das águas refletindo o noturno enluarado da noite e de efeito estético visualmente atraente, começou a dar lugar a inquietações trazendo à tona, lentamente, enorme criatura com olhos brilhando na luz da Lua, de pele escura e escamosa reluzindo sob as águas.
Tipo pré-histórico, a criatura expressava-se tornando público a sua majestade, transmitindo coragem, fúria, colocando em alvoroço os que ali o contemplavam: - alguns sentindo-se agraciados pelo que viam e sentiam, outros paralisados pela intranquilidade, pela sensação de ameaça que os invadiam.
Assim, de forma sobrenatural, inexplicável e de maneira tanto encantadora quanto apavorante, NESS - o Monstro do Lago – submerge lentamente, dando tempo até para que fosse registrado.
Diante dessa oportunidade e mesmo em estado emocional bastante abalado o casal teve a iniciativa para o registro do fato:
- em tom de desafio e prontidão, máquina às mãos, dedo em riste, pronto ao clique, e...
FRUS – TRA – ÇÃO!
O tremor de medo faz a máquina escapar das mãos, mergulhar, sumir para o fundo do lago... tal qual o
MONSTRO DO LAGO NESS.
Na busca de emoção e diversão, um grupo de amigos decide explorar uma floresta afastada.
No entanto, o que deveria ser um espaço de tempo divertido passa a ser inquietante, quando descobrem que aquela floresta abriga o que parecia ser uma terrível criatura cujos vestígios simbolizavam perigo mortal.
Todos sobreviverão desse destino? Alguém conseguirá escapar e contar a história?
Arte - Luís Ayala Texto - Antonio Laurielo, Locução - Francisco Olivatto
Clique na seta ao lado do texto, para visualiza -lo por completo.
Em pequena cidade rural uma série de desaparecimentos começam a ocorrer:
- Segundo relatos de moradores, uma figura muito alta, esguia, com a cabeça na forma de sirenes emitindo sons angustiantes, de tempos em tempos adentrava nas vias públicas locais.
Julgavam ser uma entidade misteriosa, com poderes incomuns, a assombrar aquelas áreas florestais, atraindo suas vítimas com os sons assustadores que emitia, desaparecendo com elas.
Diante de um aumento real de desaparecidos, o fato deixou de ser considerado boato ou mesmo lenda, dando lugar a uma situação de pânico a tomar conta da cidade.
Tal constatação fez com que um dia:
- Uma jovem, fixada pela ideia de encontrar/capturar tal entidade e então descobrir a verdade, ou não, por trás daqueles acontecimentos, dá vazão a seu plano de captura.
Certa madrugada, na pesquisa, no farejo e orientando-se por certos indícios, a jovem segue trilha sinuosa em direção a uma área florestal, na crença de que aquela criatura ali se escondia.
E, de fato, lá ela estava. Bem ali, a imagem assustadora, porém majestosa, se punha à frente da jovem, movendo-se entre as árvores, emitindo sons agudos, perturbadores. E diante do perigo eminente de ser capturada começa a correr desesperada pela mata, aos gritos por socorro.
Porém, tudo em vão.
Valendo-se da habilidade de camuflagem que possuía, a fera consuma toda aquela ação/situação.
Silêncio sepulcral, sombrio. De morte ??? Talvez.
Sabe-se que a jovem nunca mais foi vista, que nada, nada daquele ocorrido foi encontrado ou registrado.
Envolto por teorias conspiratórias, os atos, fatos e boatos sobre tudo o que foi e é relatado registram - à boca miúda – o nome de SIREN HEAD para o protagonista dessa história.
Em meio às ruínas de um casarão abandonado na região central de São Paulo, uma presença antiga desperta quando a cidade ainda sussurra histórias de quase esquecimento. Chamado pela própria curiosidade dos vivos e amedrontado pela distância que o tempo impõe, o fantasma se revela como a testemunha silenciosa de uma tragédia esquecida. Entre paredes que falam com o vento e corredores que se dobram sobre si mesmos, ele observa quem ousa atravessar seus dormitórios opacos, procurando uma redenção que talvez só exista na memória dos que partem sem deixar vestígios. Conforme o presente se encontra com o passado, o casarão se torna uma lâmina que corta a cidade ao meio, revelando segredos que ninguém ousa contar.
Arte - Sofia Akemy Texto - Francisco Olivatto Locução - Antonio Lauriello
Clique na seta ao lado do texto, para visualiza -lo por completo.
A Avenida São João, coração inquieto de São Paulo, vive sob o rugido constante de motores, passos apressados e anúncios que nunca cessam. No número esquecido que já foi palco de festas familiares e de jantares que sangravam de silêncio, ergue-se o casarão conhecido como Castelinho da Rua Apa. À meia-noite, a fachada não bate apenas com o vento; ela respira, como se pulmões invisíveis aumentassem o ar para engolir a cidade inteira.
Pouco antes do crepúsculo, quando a chuva parece querer apagar tudo de uma vez, Clara, restauradora de patrimônios, recebe a incumbência de avaliar a estrutura para um projeto de preservação. Ela não acredita em fantasmas, mas sabe ler o peso que as histórias deixam nas paredes. O prédio a recebe com uma umidade que parece ter dentes, uma queixa antiga de madeira que range como ossos velhos.
Ao empurrar a porta principal, o ranger é umido e demorado, como se o tempo tivesse sido entalhado ali em camadas de poeira. O cheiro de madeira molhada e mofada pelo tempo se mistura a ferrugem de corrimões que não suportam mais o peso do mundo. Dentro, as paredes parecem fechar o fôlego; retratos mofados observam com olhos que não envelhecem, como se guardassem segredos que preferem permanecer enterrados.
No corredor central, as portas não dão para salas comuns; elas se abrem para passagens que cortam a própria pele da casa.O teto caiu, expondo as entranhas do castelinho às estrelas e à chuva, constante na terra da garoa.
Assim Clara, ao adentrar a esta mansão em ruínas, encontra um quarto com um berço vazio, onde a umidade parece se mover sozinha, como se alguém ainda respirasse ali, mesmo sem tomar fôlego. Ao tocar uma moldura, o silêncio responde com um sussurro áspero: “Não esqueça.” Não vem de uma voz humana, mas do peso da memória que desliza pela madeira, arrastando o cheiro de antiga pólvora e de risos que já foram uma manhã.
E então ele aparece — não como homem, mas como uma presença translúcida que se agita entre objetos que parecem observar tudo com olhos que nunca se calam. O fantasma não veste roupas; ele carrega a gravidade de um passado que não quis ser esquecido. Seus olhos, fosforescentes, brilham como faróis de uma cidade que já respirou sob lâmpadas a gás: o brilho tremeluzente de uma moeda que tombou na lama, o murmúrio de uma rádio velha que dizia “boa noite, minha cidade”.
Chamado pela região que o criou — o centro de São Paulo — ele é a memória de uma família que tentou manter o casarão inteiro pela eternidade, para que o segredo que ali se desenrolou jamais visse a luz do dia. Mas o tempo não obedece a promessas feitas entre paredes.
Clara, ao ouvir a voz, sabe que não se trata apenas de assombro; é uma ponte entre o passado e o presente, uma linha tênue que pode desabar a qualquer momento. O fantasma revela, em ecos frios, o que aconteceu numa noite de chuva quando a cidade parecia sufocar. Um segredo ligado à talha das escadas, a uma dívida entre amigos, a uma tragédia que despedaçou uma família. O casarão guardou tudo: risos, lágrimas, promessas rasgadas e, principalmente, o medo de ser entendido.
Conforme o inusitado e assustador encontro avança, Clara percebe que o fantasma não busca vingança nem consolo; ele deseja um silêncio que não caiba mais entre as paredes. Ele procura alguém que ouça para que toda a verdade não se faça apenas ruído na cidade, mas uma lembrança gravada no tempo. Em troca, oferece um vislumbre sinistro do que houve: uma janela quase tangível para a vida que existiu ali, antes que a casa respirasse de forma tão pesada que o ar parecia atravessar a garganta de quem passa na rua.
Na última noite de avaliação, a chuva cai com mais ferocidade, como se fosse uma cortina derradeira. O espectro se aproxima de Clara sem pressa, com a expressão de quem, finalmente, pode deixar o segredo romper o silêncio. O casarão respira fundo, exala uma brisa tão fria que parece puxar o mundo inteiro para dentro de si, lembrando aos moradores que há memórias que não devem ser esquecidas, mesmo que o preço para contá-las seja o peso de uma noite sem fim.
Clara registra tudo, não apenas para fins de preservação, mas para que o centro de São Paulo ouça a voz que ali habita — uma voz que não consola, mas ensina o quão profundo o passado pode respirar através do presente. E quando a cidade acorda no dia seguinte, a Casa da Neblina parece mais sombria e, ao mesmo tempo, mais real: as paredes, antes opacas, parecem ter finalmente aceitado abrir espaço para o que ocorreu ali, sem esquecer o peso do que ficou para trás.
Em Varginha, Minas Gerais, em 1996, ocorreram relatos que deram origem ao caso conhecido como "o ET de Varginha". Foi avistado um objeto voador não identificado que caiu nas proximidades da cidade, fato que gerou uma confusão pois três ou quatro jovens afirmaram que teriam visto uma criatura estranha, circulando na madrugada pelas ruas desertas da cidade, descritas como pequenas, de pele marrom, com cabeça desproporcional e olhos grandes.
A partir disso as coisas perderam o controle e bombeiros, militares e jornalistas invadiram a cidade, causando uma confusão de grandes proporções.
Arte - Thyago Bastos - Francisco Olivatto Locução - Francisco Olivatto
Clique na seta ao lado do texto, para visualiza -lo por completo.
A cidade acordou com um zumbido estranho nas ruas, como se o ar tivesse sido preenchido por uma nota que ninguém sabia tocar. Quatro jovens, movidos pela sede de provar que o impossível existe, afirmaram ter visto algo no céu que não cabia nos livros: uma forma que não era nem estrela, nem avião, mas algo entre ambos, que descia em direção à praça central e parou no vazio entre a igreja e o cinema antigo.
O medo não veio com o que foi visto, mas com o que ficou por dizer. Jornalistas chegaram com as câmeras prontas a capturar o inexplicável; militares, com uma seriedade que parecia cortar o próprio ar; bombeiros, com botas afiadas para enfrentar o inesperado. O desconhecido, tão perto, tornou-se maior que cada um deles.
O objeto não identificado não era apenas uma forma; era uma promessa de que havia algo além do que os olhos podem comandar. Os primeiros passos do encontro foram silenciosos: um suspiro no pescoço, uma sombra que não estava na sombra. Os olhos dos presentes — quem viu, quem ouviu, quem registrou — perceberam que o medo não se tratava de monstros ou invasores, mas do próprio vazio que cercava aquilo que não poderia ser nomeado.
Conforme a noite se adensava, o desconhecido revelou-se não como ameaça, mas como espectro de possibilidades. Cada tentativa de explicar doía como uma curiosidade maldita: a culpa de perguntar demais, o orgulho de entender pouco, a fome de provar que a fronteira entre o conhecido e o segredo é apenas uma linha tênue.
Os rumores cresceram como fungos na madeira velha da cidade. Alguns juravam ter ouvido vozes que não pertenciam a ninguém, outras asseguravam ter visto uma silhueta que mudava de forma à medida que se aproximava da luz. O medo começou a ocupar casas, bares e praças. O vazio que rodeava o que não pode ser descrito tornou-se o verdadeiro antagonista: não havia arma, não havia ataque, apenas a possibilidade de que qualquer coisa poderia surgir do nada e mudar tudo.
Na manhã seguinte, a cidade acordou com uma notícia ainda mais pesada que o silêncio da noite: os avistados, os que testemunharam, as pessoas que registraram cada detalhe, haviam desaparecido. Sem traços, sem explicações, sem mensagens. Como se o próprio conhecimento tivesse sido tragado pela escuridão que surgira na praça.
As horas seguintes foram uma busca sem fim — equipes de agentes revisando cada canto, investigadores tentando reconstruir o que não poderia ser reconstruído, familiares esperando respostas que nunca chegavam. O medo, agora, não era apenas do que poderia ter acontecido com os seres extraterrestres, mas do que poderia acontecer com qualquer um que ousasse olhar demais para o desconhecido.
Dias se transformaram em semanas, e a cidade aprendeu a conviver com a ausência. As perguntas permanecem: onde foram parar os ETs? Por que sumiram? Quem pode dizer o que aconteceu naquela noite sem fim? O desconhecido não deu sinais de retorno; apenas deixou um rastro de silêncio que faz o coração dos moradores pulsar mais devagar a cada lembrança do que foi visto.
O desaparecimento não foi resolvido. Não houve explicação, nem relatório, nem pista que conectasse as lacunas. O medo do desconhecido continuou a assombrar os sonhos da cidade, agora temperado pela dor da ausência. E, ainda que o mundo tenha seguido adiante, a praça central permanece como um altar silencioso: um lugar onde o impossível se sentou por um instante e nunca mais voltou.
Certa vez, numa vila tranquila, trabalhadores se preparavam para a jornada do cultivo da terra, quando se viram perturbados por situação bastante preocupante: a suposta ação de um ser, ou entidade sobre o local, causando grande destruição.
O que ou quem teria feito tudo aquilo?
Entre todos, somente um jovem resolve aventurar-se na busca de explicação a tal problema. E parte para uma jornada impressionante, com muitos perigos pela frente.
Sairá ele em segurança dessa movimentação penosa por toda aquela mata, sem ser afetado por um acidente ou outra situação insegura e bastante arriscada?
Sobreviverá?
Arte - Guilherme Terrabúio - Francisco Olivatto Locução - Francisco Olivatto
Clique na seta ao lado do texto, para visualiza -lo por completo.
Vila tranquila: trabalhadores gentis, unidos, sempre se solidarizando no cultivo da terra, das plantas e na criação de animais.
Na verdade, porém, todo aquele entendimento era perturbado por um mistério que todo o povoado nunca ousava comentar abertamente:
- a suposta ação de um ser, ou entidade, a habitar aquela região, nunca visto por ninguém, somente acreditado por vestígios, fragmentos, rastros deixados por onde agia.
De concreto mesmo eram as gigantescas pegadas cravadas no solo por onde passava, deixando para trás evidentes sinais da busca desenfreado por alimentos: pastos e plantações invadidos de forma voraz, matando suas presas favoritas- vacas, cabras, porcos, ovelhas – até mesmo os animais (cães) que ali viviam para a segurança do local.
A eminência de seus ataques sempre era anunciada por estrondos intensos, o que fazia com que todos agissem em fugas, se protegendo em suas moradas, em cantos ou grutas montanhosas.
Por pequenas frestas, alguns se arriscavam a ver a criatura, descrevendo-o como um monstro, muito alto – mais de três metros - sequer dando chances de perceber a sua fisionomia. Tipo símio-humanoide, corpo coberto de espessos pelos.
Por onde passava exalava forte e nauseante cheiro, fixado no solo percorrido por longo período (mais de três dias) como prova de sua ação devastadora .
Mas, além daquele odor, a evidência maior da sua aparição estavam nas suas pegadas, semelhantes às humanas, porém em proporções muito maiores:
- 45 centímetros de comprimento – ,
batizadas pelos moradores de PÉ GRANDE - , o monstro do PÉ GRANDE.
Certa vez, houve quem, tomado de grande coragem, saiu à identificação e comprovação da existência da tal criatura, desacreditada, até então, por grande parte da população.
Logo cedo, escondendo-se nas folhagens, nos cantos e recantos da região, munido de instrumentos de defesa, além da máquina fotográfica (fundamental à comprovação), ficou à espreita.
Tão logo sons de paços começaram a ecoar, quebras, estalos de galhos e o tremor do solo se fez sentir, com o coração acelerado, se preparou:
- posição erguida, dedo em riste, viu enormes pés passarem bem próximos. O veloz clicar da sua máquina percorria toda a imagem daquele vivente que, aguçado que era nos seus sentidos, rapidamente embrenhou-se no matagal.
O jovem, orgulhoso do seu feito reuniu parentes, amigos e curiosos pra narrar e demonstrar o que fizera.
Mas...,
Frustação! Nada do que viu e registrou foi revelado/ comprovado.
Somente galhos quebrados, vegetação com folhagens destruídas e mexas de pelos foram visíveis nas várias fotos que tirou.
Exceto uma única - a última -, onde se via o perfil de um enorme PÉ, com longas, pontiagudas e afiadas unhas, tudo, tudo en – san – guen – ta - do.
A Velha Turbo , ou Turbo-Bachan, é uma lenda urbana japonesa, caracterizada como um Yokai, ser sobrenatural com poderes igualmente sobrenaturais, que assombra as estradas aparecendo para motoristas que excedem os limites de velocidade nas estradas.
Ela persegue os veículos desses motoristas numa velocidade incrível, assustando eles ao bater nas janelas dos carros, distraindo os motoristas e provocando acidentes...
Arte - Gabriela Castelo Texto - Francisco Olivatto Locução - Francisco Olivatto
Clique na seta ao lado do texto, para visualiza -lo por completo.
Na estrada que serpenteia as colinas do interior do Paraná, onde o nevoeiro desce tímido sobre as lavouras e os caminhões roncam como tambores cansados, a noite costuma sorrir com uma quietude inquietante. Os caminhoneiros, homens e mulheres com mãos ásperas pelo peso da massa e do tempo, sabem que a fadiga é uma sombra que pode alcançar qualquer um. E foi justamente nesse ponto de vulnerabilidade que a lenda da Velha Turbo ganhou vida entre os contos sussurrados nos caminhões.
Dizem que, em noites sem luar, quando os pneus chicoteiam o asfalto e os faróis desenham traços de luz na linha do horizonte, a estrada se abre para uma presença etérea: A Velha Turbo, ou Turbo-Bachan, uma figura que parece antiga como o próprio tempo, com olhos que brilham como aço frio e um kimono gasto que balança ao vento da velocidade. Não é apenas uma figura de medo: é um Yokai, um ser que se alimenta do desequilíbrio entre o corpo cansado e o mundo em movimento.
Numa dessas noites, o caminhoneiro Zeca KImura, que fazia a rota entre Londrina e o porto Paranaguá, mergulhou na mais profunda sonolência após horas de abastecimento, carga e descarrego. A cabine cheirava a óleo e café frio; o rádio chiava com estágios de silêncio desconfortável. Zeca lutava para manter os olhos abertos quando, de repente, o ronco do motor pareceu diminuir, como se a estrada tivesse levado o fôlego junto com o motorista. Foi nesse instante que a luz branca de um farol cortou a janela esquerda, não com o brilho de um carro comum, mas com um golpe de vento que parecia advogar a própria velocidade.
A Velha Turbo não precisava de palavras. Ela bateu na janela com o punho de vidro, não para ferir, mas para assustar, para lembrar que a pressa pode ser uma armadilha. Zeca piscou, espantando a visão, tentando entender se aquilo era real ou apenas o cansaço pregando peças. Quando a batida na janela cessou, o mundo ao redor parecia ter ganhado uma qualidade dourada, como se o tempo se tivesse comprimido. A estrada se esticava diante dele, num asfalto que ronronava sob as rodas, mas cada linha pintada no chão parecia ganhar vida própria, tentando puxar o caminhão para um destino que não era o dele.
Do outro lado da pista, uma forma antiga, dobrada pelo peso dos anos e da velocidade, surgia como uma figura de outra época. A Velha Turbo não tinha pressa; tinha a certeza calma de quem sabe exatamente onde o medo mora. Ela não falava, apenas emitia um zumbido que lembrava o vento correndo por entre os trilhos. Seus olhos, como dois faróis sem lâmpadas, pareciam medir o coração do motorista, sondando cada batida de cansaço.
O radar da imaginação de Zeca entrou em alarme: ele lembrava dos conselhos da sua avó, que dizia para manter a mente acordada, abrir as janelas para o ar fresco da madrugada, cantar baixinho uma canção antiga e manter as mãos firmes no volante. Mas ali, na presença da Velha Turbo, qualquer desculpa soava pequena demais diante da imensidão da estrada. A criatura se movia com uma velocidade que não combinava com a noite: breve, quase invisível, atravessava a visão como se fosse o próprio vento com olhos. E cada batida na janela não era apenas um susto; era um lembrete de que o sono é um ladrão silencioso.
Zeca respirou fundo, tentando se restabelecer. Ligou o rádio, deixou a música simples de um ruído de fundo preencher a cabine, encontrou o fio da memória: a rota, as crianças esperando em casa, o peixe da madrugada que precisava de água fresca no tanque — coisas pequenas que, juntas, criavam uma âncora de razão. Com o caminhão ainda em movimento, Zeca piscou novamente e percebeu que a Velha Turbo não podia abandonar a sua própria natureza: ela aparecia apenas para lembrá-los de que a velocidade sem cuidado é uma aposta com o invisível.
No trecho de serra, a névoa começou a levantar lentamente, como se a floresta ali presente tivesse começado a bocejar. A Velha Turbo recuou, não em retirada definitiva, mas em uma distância misteriosa, esperando o próximo caminhão, a próxima vela acesa no aceso do vigiar. Zeca, que quase cedeu ao sono, manteve o olhar firme no horizonte e deixou que a chuva fina da madrugada desenhasse caminhos cintilantes no para-brisa. Aos poucos, a sensação de perseguição diminuiu, transformando-se em uma percepção: a lenda não era apenas uma maldição, mas um aviso da própria estrada sobre a necessidade de cuidado.
Nas noites seguintes, outros caminhoneiros contaram histórias parecidas: boatos de uma silhueta que bateu nas janelas, de um zumbido que lembrava motores à velocidade, de um Yokai que surgia apenas quando alguém se permitia deslizar para o sono ao volante. E cada relato, ainda que assustador, servia para lembrar que a estrada é um espaço de responsabilidade. A Velha Turbo não buscava apenas aterrorizar; ela apontava para a verdade de que a segurança depende da capacidade de permanecer acordado, de descansar nas pausas, de respeitar os limites, de cuidar de si e dos outros que viajam pelas mesmas curvas.
Com o tempo, as comunidades de caminhoneiros criaram uma pequena tradição: ao cruzar uma curva próximo a um trevo antigo, alguém acende uma luz amarela por alguns segundos, como se fosse um sinal de alerta para não perder a atenção. Não é a Velha Turbo que se instiga por medo, mas sim o compromisso coletivo de manter a estrada segura para todos. E, embora a lenda continue a ser contada, ela deixou de ser apenas uma história de assombro para se tornar um lembrete vivo de que a fantasia pode nascer da necessidade humana de preservar a vida no comércio da distância.
Na tradição do vodu haitiano, o zumbi é um cadáver reanimado por feitiçaria, sem vontade própria, escravizado por quem o invoca. Diferente dos monstros modernos que agem por instinto, o zumbi vodu é controlado por bruxas ou feiticeiros, usado como ferramenta de vingança, trabalho ou terror. Sua pele é ressecada, os olhos opacos, e seus movimentos lentos escondem uma força brutal. Quando libertos do controle, tornam-se predadores famintos, guiados por uma fome ancestral — especialmente por cérebros humanos, fonte de memória e consciência.
Arte - André Sigora Texto - Francisco Olivatto Locução - Antonio Lauriello
Clique na seta ao lado do texto, para visualiza -lo por completo.
No sertão profundo da Bahia, onde o chão é rachado e o sol parece nunca dormir, existe uma vila esquecida chamada Cangalha do Inferno. Cercada por mandacarus e silêncio, ela guarda um segredo que nem os mapas ousam registrar.
Há décadas, uma mulher conhecida como Mãe Cidália, bruxa de vodu vinda do Caribe, se refugiou ali após ser perseguida por caçadores de feitiçaria. Com seus tambores, bonecos e rezas em patuá, ela invocou forças antigas para proteger sua terra. Mas o preço foi alto.
Cidália criou os Filhos da Poeira — zumbis reanimados com sangue de bode e raízes da caatinga. Enterrados em covas rasas, eles despertam quando o vento sopra do leste e a lua se esconde. Lentamente, emergem da terra seca, com olhos leitosos e bocas famintas.
Caçadores que se aventuram por ali somem sem deixar rastros. Viajantes que ignoram os avisos são encontrados dias depois, com os crânios abertos e os cérebros devorados. A polícia não entra. Os moradores rezam. E Mãe Cidália observa, sentada em sua cadeira de palha, com um sorriso torto e um colar feito de dentes humanos.
Certa noite, um grupo de caixeiros viajantes chegou à vila, buscando atalhos para Feira de Santana. Ignoraram os conselhos, riram das histórias e seguiram pela trilha do Vale Seco. O chão parecia pulsar. A poeira subia sem vento. E então, eles vieram.
Os zumbis se ergueram como sombras vivas, lentos mas implacáveis. Um deles, com o rosto costurado e braços longos como galhos, agarrou o primeiro viajante. Outro, com olhos de vidro e língua preta, sussurrava em patuá enquanto devorava memórias.
Dos cinco viajantes, apenas um escapou — um jovem chamado Damião, que correu até desmaiar. Foi encontrado por vaqueiros, delirando, repetindo frases em francês e gritando por “Cidália”. Nunca mais falou coisa com coisa.
Hoje, quem passa por Cangalha do Inferno vê bonecos pendurados nas árvores, trilhas que desaparecem no nada, e ouve tambores distantes nas noites quentes. E se o chão começar a tremer... corra. Porque os Filhos da Poeira não têm pressa. Mas têm fome.
A lenda do Homem do Saco, também conhecido como Velho do Saco, é uma história popular que serve como aviso para crianças desobedientes, contando sobre um homem que as carrega em um saco para comê-las ou devorar seu fígado para curar uma doença. As origens da lenda são incertas, mas ela pode ter vindo da Idade Média, da Espanha, ou estar ligada a doenças como a hanseníase ou doença de Chagas, para as quais o consumo de órgãos de crianças seria a cura.
Arte - Pedro Gonsalves Texto - Francisco Olivatto Locução - Antonio Lauriello
Clique na seta ao lado do texto, para visualiza -lo por completo.
Era início do século XX em São Paulo, quando a cidade crescia como um sopro rápido de ferro e fogo. Imigrantes chegavam de tudo quanto era canto do mundo, trazendo consigo costumes, histórias, lembranças e uma nova cadência para as ruas estreitas como as que ainda restam no Brás e no Bexiga. Entre cortiços, pátios iluminados por lampiões a óleo e becos que pareciam serpentes de sombra, as crianças desciam pelas calçadas com o tic-tac do relógio de casa batendo no peito como um lembrete de que a noite era trabalho de gente grande.
As ruas, ainda por assim dizer recém-alfabetizadas pela modernidade, guardavam segredos: passos apressados de sapatos velhos, o ranger das portas de madeira, o cheiro de comida que escapava das casas para as vielas. Algumas crianças voltavam tarde da noite, curiosas com o eco das oficinas, com risadas que parecia emprestadas do mundo dos adultos. Outras, porém, obedeciam cedo, sabendo que a casa era um porto seguro.
Foi justamente nesse tempo de fronteiras entre o sonho e a miséria que tomou forma a figura do Velho do Saco — ou Homem do Saco, como alguns o chamavam com um tom de curiosidade pendurado na voz.
Dizem que ele não tinha rosto definido: às vezes, a capa era de um amarelo gasto pelo tempo, noutras, um casaco preto que absorvia a cor da noite. O saco ao ombro pesava não pelo peso, mas pela promessa do que poderia conter. Em certas versões, ele aparecia apenas quando alguém dobrava a esquina, quando a luz do lampião tremia e o eco de passos se misturava ao farfalhar das folhas — como se a cidade mesma decidisse respirar mais fundo antes de revelar seu segredo.
Naquele tempo, as mães repetiam a mesma advertência: “Hora de vestirpijama, e lavar as mãos para jantar e dormir.” Os meninos e meninas, curiosos como qualquer jovem coração, estavam descobrindo a cidade que crescia junto com eles. Saíam para brincar não apenas para se divertir, mas para testar limites, para ouvir o acaso bater à porta com uma risada que não cabia dentro do peito.
Quando a noite caía sobre a cidade, as vielas ganhavam contornos de mapa do tesouro perigoso. O sifão da rua, as portas entreabertas, o murmúrio dos passos de trabalhadores que voltavam ao abrigo dos cortiços — tudo conspirava para que as sombras se tornassem personagens sombrios…
Certa vez, conta-se entre olhares esguios e mão na frente da boca para abafar o som, , um grupo de crianças que gostava de desobedecer resolveu brincar de esconde-esconde até depois do crepúsculo. Foi quando a cidade pareceu contar seus segredos mais profundos: os risos, antes fáceis, tornaram-se ecos distantes que se apagavam no canto de uma rua. Não havia roupas deixadas para trás, nem marcas de corridas na poeira das calçadas. Apenas o silêncio que se instalava como um cobertor pesado.
Dizem que o Velho do Saco passava por entre as vielas como quem recolhe memórias que não pertencem mais a ninguém. Ele não aprontava violência direta; era a ideia de que alguém poderia perder o mapa da própria casa, o caminho de volta, a segurança que os pais garantiam com a voz baixa de quem sabe onde moram. E assim, algumas crianças simplesmente sumiam dos becos, como se tivessem sido puxadas para dentro de uma porta que só se abre para quem não tem medo de atravessá-la sozinha.
Se a cidade de São Paulo era um organismo que crescia a cada esquina, o Velho do Saco era uma manipulação simbólica das leis invisíveis que regiam a vida noturna: o riso que se transforma em silêncio, o peso que recai sobre os ombros das mães, a coragem que se equilibra entre a curiosidade e a segurança.
E nos becozinhos do Brás e da Bexiga, onde a história ainda se respira entre o cheiro de pão quente e ferrugem, as crianças aprenderam a escutar o sussurro da cidade: que a noite é bonita, mas precisa de cuidado; que a curiosidade pode abrir portas — e às vezes abrir portas demais e numa dessas, pode dar de cara com o homem do saco…
Aérea, em voos deslocados, rápidos, ora rasantes, ora desviando-se na contramão de fortes correntes de vento e à frente da intensa luminosidade da lua cheia, ela revela-se em silhueta: cabelos ralos, de longos fios, emaranhados, presos por chapéu-cone, calçada por sapatos de couro animal, de bico muito fino, ponteagudo, coberta por traços-tiras de estopa, tudo disforme.
Voa montada em longo cabo de madeira onde, numa das extremidades, traz folhas, palhas secas de plantas naturais amarradas com cipó.
Viaja mundos, galáxias, pregando ora o bem, ora o mal, desde a Idade Média até hoje.
Quanta vida! Quanta história pra contar, não?
Arte - Lorenzo Batísta Texto - Francisco Olivatto Locução - Antonio Lauriello
Clique na seta ao lado do texto, para visualiza-lo por completo.
Lembra da maçã expulsando Adão e Eva do Paraíso?
Lembra também da maçã adormecendo Branca de Neve? E do selo Apple, porta-voz dos incríveis reis do Yé, yé, yé?
Pois é! Tudo obra da BRUXA. Dizem!
E quem há de negar? Bem ou mal ela está por aí, por aqui, na cuca, no medo das pessoas que a têm ora como Fada, ora como... Bruxa, messssmo.
Sobrenatural, mística, mágica, sedutora, transforma- se em bela, em fera, satisfazendo egos. Vive disso, dizem.
Eu, particularmente, já tive esse tipo de contato e, confesso, me borrei todo:
- Noite alta, no abafado sótão de casa, arrumando a despensa ouço um FLAP, FLAP, FLAP contínuo, nervoso, como que em debate, na busca de algo.
Tenso, corri olhares pelos cantos do ambiente iluminado por lâmpada de alta voltagem.
Subitamente surgem vultos em zigue-zague me envolvendo inteiro, colocando-me estático, indefeso, com meeeeedo.
Cambaleando, me vi amparado pela quina da parede. E ali, justamente ali, o vulto se agiganta e, em um processo de transição, se apresenta, mostra-
se reconhecidamente em uma BRUXA.
Vesti coragem e frente a frente enfrentei aquela figura assustadora a compor um cenário funesto, de almas recentemente falecidas.
E naquele enfrentamento, de súbito forte energia toma conta do ambiente, me envolve, me coloca em levitação, suspenso que fui por enormes asas, das quais, em pânico, me desequilibro, caio em giros.
Estranhamente, o choque da queda me traz à vida.
Abro os olhos e me vejo deitado em terra firme.
Acima de mim aquelas asas descansavam sobre folhagens: asas de cor escura, misto de preto e marrom, com manchas disformes, grosseiras, pesadas, sujas, na forma de dois círculos, um em cada extremidade, tais como penetrantes olhares a me vigiar.
Olhei fixo, vi: era um espécime ESCALAPHA ODORATA, uma BRUXA.
Jovens aventureiros desregrados: desconheciam e desconsideravam leis, ordens, limites, percorrem caminhos remotos, distantes da civilização.
Mas eis que a alta frequência de amores e dissabores ali vividos é quebrada por situação assombrosa: repentinamente se viram diante do NADA, somente um portal à sua frente.
Que fazer? Atravessá-lo?
Sim. Foi o que fizeram. E foi o momento em que passaram a viver situações extremas de...
Arte - Maya Costa Texto - Francisco Olivatto Locução - Antonio Lauriello
Clique na seta ao lado do texto, para visualiza -lo por completo.
Aventureiros, imorais!
Na busca por feitos fora do comum e intensos, jovens – homens e mulheres – percorrem caminhos remotos, distantes da civilização, nas profundezas de cavernas e densas florestas.
Era um grupo de rebeldes, considerados nocivos à convivência social da qual eram nativos e de onde foram expulsos .
Fugiram, deixando pra trás feitos nada favoráveis a um bem-estar coletivo: desregrados, desconheciam e desconsideravam leis, ordens, limites.
Em percurso, deslocavam-se de um ponto a outro aleatoriamente, dependentes do acaso e de acontecimentos incertos.
Tudo, tudo em algazarras, num retrato fiel do que se tem por esbórnia: muita diversão, excessos e agressividade.
Mas eis que, na evolução daquelas ocorrências a alta frequência de amores e dissabores é quebrada: - ondas sonoras de diferentes amplitudes tomam lugar das atenções de todo aquele grupo.
Tomados de assombro colocam-se em posição de desafio, em prontidão para o uso da força, até mesmo de armas.
Param, olham os arredores, aguçam os sentidos para identificar de onde partiam aqueles sinais. Essa busca era revigorada a medida que sentiam que aquele som se intensificava gradativamente e em paralelo às caminhadas.
Foi longo o percurso, estancado, após horas, por um vasto nada à frente: apenas e unicamente densas nuvens.
Estavam à beira de um precipício.
E agora? Pra onde ir? O que fazer?
O assombro tomou conta de todos. Foi quando no alvoroço dos ânimos, nas indecisões, dúvidas do que e como fazere impossibilitados de ir adiante ou retornar perceberam, sen – ti – ram que...
- ... que estavam além do mundo visível, prestes a penetrar um portal para o mundo de espíritos.
E foi o que ocorreu:
- Enormes seres na figura de vorazes canibais arremessando instrumentos de tortura – hastes de ferro, serras, facas – cercaram o grupo, condenando-os para dentro do que parecia enorme caldeirão (o INFERNO?) com caldo fervente a cozinhar grande quantidade de vítimas, algumas já mortas, esquartejadas , enquanto outras, ainda em vida, berravam, suplicavam perdão.
De todos, apenas um, com arrependimento sincero, obteve sobrevida. Voltou. Voltou a si: sob sua cabana, só, isolado do grupo.
Ao seu redor apenas grãos de soja e feijão torrado, típico ritual de proteção contra ONIS.
Drácula é o icônico vampiro criado por Bram Stoker em 1897, símbolo máximo do horror gótico. Conde da Transilvânia, ele é uma criatura imortal que se alimenta do sangue dos vivos para manter sua juventude e poder. Com aparência aristocrática, inteligência refinada
e habilidades sobrenaturais — como transformar-se em névoa, controlar animais e hipnotizar suas vítimas — Drácula é tanto sedutor quanto aterrorizante. Sua presença é marcada por uma aura de decadência, mistério e morte. Ao longo dos séculos, ele se tornou
mais do que um personagem: uma lenda viva que atravessa fronteiras e épocas.
Arte - Gabriela Castelo Texto - Francisco Olivatto Locução - Antonio Lauriello
Clique na seta ao lado do texto, para visualiza -lo por completo.
O navio cargueiro Nocturne, vindo da Europa Oriental, atracou discretamente no porto de Santos numa madrugada abafada de março. A tripulação, visivelmente exausta, evitava falar sobre o porão lacrado desde a partida. Um dos marinheiros, com olhos fundos e voz
trêmula, apenas murmurou: “Ele escolheu este lugar.”
Na escuridão do porão, entre caixotes de madeira e cheiro de mofo, repousava um caixão antigo, entalhado com símbolos esquecidos. Quando a última luz do cais se apagou, a tampa se ergueu lentamente. Drácula havia chegado ao Brasil.
A escolha da região não foi aleatória. Praia Grande, com seus prédios altos, ruas movimentadas e turistas constantes, oferecia o anonimato perfeito. Alugou uma mansão abandonada no bairro Mirim, cercada por muros altos e vegetação densa. À noite, caminhava pelas calçadas como um senhor distinto, vestindo terno escuro e chapéu —ninguém suspeitava da verdadeira natureza daquele novo morador.
As primeiras vítimas foram discretas: moradores de rua, jovens que voltavam sozinhos da balada, pescadores que dormiam em seus barcos. A polícia atribuía os desaparecimentos à violência urbana. Mas os mais atentos notavam padrões estranhos — corpos encontrados sem uma gota de sangue, marcas simétricas no pescoço, e uma sensação de frio
inexplicável nas noites mais quentes.
Drácula não apenas se alimentava — ele construía um império. Hipnotizou políticos locais,empresários e até um jornalista influente. Aos poucos, criou uma rede de servos que o
protegiam e ocultavam seus rastros. A cidade, sem saber, tornava-se um feudo sombrio.
Mas nem todos estavam cegos.
Helena, uma historiadora da USP que pesquisava lendas europeias, começou a ligar os pontos. Ao visitar Santos para uma palestra, ouviu relatos e decidiu investigar. Descobriu o navio Nocturne, os registros de carga omitidos, e os símbolos do caixão — iguais aos que vira em manuscritos antigos da Transilvânia.
Ela foi até a mansão. Entrou ao amanhecer, quando Drácula estava mais vulnerável. O ar era denso, e o silêncio, absoluto. Encontrou o caixão no porão, mas antes que pudesse agir, ouviu uma voz suave e ameaçadora:
"Você veio até mim, historiadora. Agora fará parte da minha história."
Helena desapareceu naquela manhã. Mas seu diário foi encontrado dias depois, escondido numa biblioteca pública. Nele, havia um aviso:
“Drácula está entre nós. Ele não precisa de castelos. Basta uma cidade que não acreditaem monstros.”
Desde então, Praia Grande nunca mais foi a mesma. E dizem que, nas noites sem lua, se você caminhar sozinho pela orla... pode ouvir passos atrás de você. Elegantes. Silenciosos.
Fatais.
Frankenstein, criado por Mary Shelley em 1818, é um dos ícones mais profundos da literatura de horror. Na verdade, o nome refere-se ao Dr. Victor Frankenstein, um cientista obcecado por vencer a morte. Ele constrói uma criatura a partir de partes de cadáveres e a traz à vida por meio de um experimento elétrico. A criatura — muitas vezes chamada erroneamente de "Frankenstein" — é imensa, forte e inteligente, mas rejeitada pela sociedade por sua aparência grotesca. O monstro, inicialmente inocente, torna-se vingativo após sofrer abandono e solidão, questionando o que significa ser humano e o preço da ambição científica.
Arte - Arthur Arrari
Texto - Francisco Olivatto Locução
Locução Conto - Antonio Lauriello
Clique na seta ao lado do texto, para visualiza -lo por completo.
“O Monstro da Serra do Mar”
No coração da Serra do Mar, entre as matas fechadas e neblinas eternas do sul do Brasil,
um laboratório clandestino operava em segredo. Instalado nos arredores de Joinville, em Santa Catarina, o local pertencia ao Dr. Victor Stein — um cientista suíço exilado, descendente direto do infame Victor Frankenstein.
Obcecado por reviver os experimentos de seu ancestral, Stein passou anos coletando fragmentos de corpos em cemitérios abandonados, hospitais negligenciados e até zonas de guerra. Com tecnologia moderna e conhecimento ancestral, ele construiu uma criatura colossal, com quase dois metros e meio de altura, pele pálida costurada e olhos que pareciam absorver a luz.
Na noite de 23 de junho, durante uma tempestade elétrica que varreu a serra, Stein ativou seu gerador de indução. Raios cortavam o céu como lâminas. Quando a corrente atingiu o corpo, o monstro abriu os olhos.
Mas algo deu errado.
A criatura fugiu, rompendo os portões do laboratório e desaparecendo na mata. Nos dias seguintes, moradores de vilarejos próximos começaram a relatar aparições de um “homem gigante”, coberto de cicatrizes, que andava pelas trilhas da serra. Animais eram
encontrados mortos, e casas isoladas tinham portas arrombadas — mas nada era roubado.
Apenas comida desaparecia.
O monstro, como o original, não era cruel por natureza. Ele buscava abrigo, compreensão.
Tentou se comunicar com uma senhora idosa que vivia sozinha em uma cabana, mas ela morreu de susto ao vê-lo. A dor da rejeição reacendeu sua fúria.
Dr. Stein, atormentado pela culpa, tentou encontrá-lo. Subiu a serra com equipamentos e suprimentos, deixando mensagens escritas em árvores e pedras: “Você não está sozinho.
Eu sou seu criador.”
Finalmente, após semanas de busca, encontrou a criatura em uma clareira, cercada por neblina. Ela estava ajoelhada, segurando um livro de contos infantis que havia encontrado numa casa abandonada.
— “Por que me fez assim?” — perguntou, com voz grave e triste.
Stein tentou explicar, mas o monstro não queria desculpas. Queria justiça. Queria desaparecer.
Naquela noite, um novo raio caiu sobre a serra. Moradores viram uma explosão de luz no topo da montanha. O laboratório foi encontrado em ruínas. Stein desapareceu. E o monstro... nunca mais foi visto.
Mas dizem que, nas noites de inverno, quando a neblina desce pesada sobre a serra, é possível ouvir passos lentos entre as árvores. E que, se você deixar um livro aberto na varanda, ele pode ser lido por alguém que só queria entender o mundo.
Se quiser, posso continuar esse conto com um investigador local, ou imaginar o monstro tentando viver entre humanos em uma cidade do sul. Quer seguir por esse caminho?
Slenderman é uma figura alta e esguia, com braços anormalmente longos e um rosto completamente liso, sem olhos, boca ou nariz. Sempre vestido com um terno preto, ele é uma entidade misteriosa que habita florestas densas e lugares abandonados. Dizem que ele aparece para crianças e adolescentes, atraindo-os com uma presença hipnótica antes de fazê-los desaparecer sem deixar vestígios. Sua origem é envolta em lendas urbanas e relatos obscuros da internet, mas sua influência parece transcender fronteiras — inclusive chegando ao coração do Brasil.
Arte - Francisco olivatto Texto - Francisco Olivatto Locução - Francisco Olivatto
Clique na seta ao lado do texto, para visualiza -lo por completo.
No coração de Minas Gerais, entre montanhas cobertas por neblina e vilarejos esquecidos pelo tempo, existe uma floresta que os moradores chamam de Mata do Silêncio. O nome não é poético — é literal. Lá dentro, o som desaparece. Nem o canto dos sabiás, nem o farfalhar das folhas. Apenas um silêncio denso, quase palpável, que parece engolir tudo.
João, um adolescente de 16 anos, morava em São Bartolomeu, uma cidadezinha com ruas de pedra e casas coloniais. Inteligente, curioso e um pouco teimoso, ele passava horas navegando em fóruns obscuros da internet, lendo sobre lendas urbanas e criaturas sobrenaturais. Foi ali que conheceu o Slenderman — uma entidade alta, sem rosto, que aparecia em florestas e fazia jovens desaparecerem.
A princípio, achou tudo exagerado. Mas quando descobriu que uma menina chamada Clara havia sumido na Mata do Silêncio dois anos antes, sem deixar rastros, sua curiosidade se transformou em obsessão. Ele começou a investigar, conversando com moradores mais velhos, que falavam em sussurros sobre “o homem branco da mata”, e sobre crianças que voltavam mudas... ou não voltavam.
Na manhã de um sábado nublado, João decidiu entrar na mata. Levou seu celular, uma lanterna e um caderno onde anotava tudo. Ao cruzar a cerca de madeira que separava a cidade da floresta, sentiu o ar mudar. O cheiro de terra úmida era forte, mas o silêncio era o que mais incomodava. Nem o som de seus próprios passos parecia ecoar.
Conforme avançava, começou a notar coisas estranhas: árvores com marcas finas e verticais, como se algo muito alto tivesse passado por ali; bonecos de pano pendurados em galhos, com rostos costurados sem olhos; e uma sensação constante de estar sendo observado.
Foi então que o viu.
Entre duas árvores, imóvel como uma estátua, estava o Slenderman. Alto demais para ser humano, com braços que quase tocavam o chão e um rosto liso, branco como cera. João tentou correr, mas a mata parecia se fechar atrás dele. As árvores se moviam, os caminhos se embaralhavam. A lanterna falhou. O celular caiu, gravando apenas o som do silêncio... e, por fim, um sussurro impossível:
"Você me viu. Agora, ninguém mais verá você."
Dias depois, os moradores encontraram o celular de João na entrada da mata. O vídeo mostrava apenas trechos borrados, mas em um deles, por um segundo, aparecia a silhueta do Slenderman. Desde então, ninguém mais ousou entrar na Mata do Silêncio. A história de João virou lenda — contada em voz baixa nas rodas de conversa, como aviso aos curiosos.
Mas há quem diga que, nas noites de lua nova, dá pra ouvir um sussurro vindo da mata... chamando por alguém. E que, se você olhar por muito tempo entre as árvores, verá um homem alto, parado, esperando.
É um ser vegetal, antes um humano que sofreu mutações por causa de um acidente quimico, e que passou a viver nos pântanos sob a forma de lama ou lodo flutuante. O monstro do pântano australiano que come suas vitimas, pescadores e turistas distraidos que se perdem e ficam presos no lodo produzido pelo monstro, que os consome dissolvendo seus corpos.
Arte - Pedro Coelho Texto - Francisco Olivatto Locução - Antonio Lauriello
Clique na seta ao lado do texto, para visualiza -lo por completo.
No coração dos manguezais que cercam Recife, onde o oceano encontra o sertão invisível entre raízes entrelaçadas e barcos de pescadores, circula a história do monstro do pântano — aqui, o monstro dos manguezais. Era um humano que, interditado por um acidente químico, teve seu corpo fundido à lama que alimenta o labirinto de raízes. Hoje, ele assenta-se como lodo que flutua, deslizando pelas marés, movido pela paciência do pântano.
Dizem que, ao romper da maré, quando o cheiro de sal se mistura ao cheiro terroso do mangue, o monstro ergue-se das águas escuras com uma calma misteriosa. Não caminha; desliza. Não grita; murmura o que resta de uma voz humana. O sussurro dele percorre as poças entre as raízes como uma corrente lenta, atraindo os curiosos desavisados para o centro daquelas águas.
A primeira testemunha foi Dona Rosa, catadora de caranguejos que vivia entre as lagoas rasas e as estacas de madeira. Ela conhecia cada cheiro: o sal, a lama, o cheiro de peixe que seca ao sol. Numa tarde em que o sol parecia quebrar as cores do mangue, ela ouviu o silêncio entre o assobio das marés. Ao olhar para o vão entre as raízes, viu a superfície do mangue ceder como vidro sob peso invisível. Do lodo emergiu uma figura: não apenas lama, mas uma entidade que carregava memórias de quem foi, presa entre as fibras de raiz e resina marinha.
O monstro não atacava de imediato; ele atraía. Catadores distraídos, turistas curiosos que se perdem entre as pontes de madeira e as lagoas, todos acabam se aproximando do centro do mangue, onde o lodo espesso envolve o visitante, dissolvendo a fronteira entre pele e solo. A água ganha uma espessura translúcida que parece respirar, como se o mangue tivesse um coração que bate sob as correntes.
Entre os moradores da vila pesqueira, corria o boato de que o acidente químico não apenas mudou o corpo, mas abriu uma passagem entre o mundo humano e o reino das raízes. Alguns diziam ouvir vozes distorcidas pedindo silêncio, não para assustar, mas para manter a harmonia do ecossistema que sustenta a vila. Cada relato trazia a mesma lição: o mangue não é apenas cenário; é um organismo vivo que exige cuidado, respeito e silêncio.
Numa noite em que a lua refletia nas poças, um jovem biólogo chamado Thiago chegou com caderno, câmeras submarinas e uma curiosidade que o movia para entender o que o monstro realmente era. Ele adentrou o manguezal com cuidado, cercado pela água morna e pela sombra das árvores. O lodo o cercou sem pressa, não o devorando de imediato, apenas observando, como quem avalia um visitante estranhamente familiar.
Enquanto Thiago registrava o comportamento da criatura, o monstro revelou, através de respirações lentas e bolhas, uma tristeza antiga — não raiva, mas um lamento por uma vida que se dissolveu na matéria do mangue. A cada passo que o explorador dava, o monstro o cercava, não para destruir, mas para lembrar que o mangue é tanto lar quanto fronteira entre mundos.
Ao final da investigação, Thiago escolheu manter distância segura, retornando à vila para compartilhar as descobertas com cuidado: o monstro dos manguezais não é apenas uma ameaça, mas uma consequência da intervenção humana no equilíbrio natural. A moral é clara: a curiosidade pode iluminar caminhos, mas a prudência mantém a vida protegida na rede de raízes que sustenta a região.
A lenda do Espantalho narra a história de um boneco feito de roupas velhas criado para espantar pássaros em um campo de trigo. Este espantalho, solitário e sem amigos, tenta se conectar com as aves, mas é temido por elas, levando-o a oferecer sementes como um gesto amistoso. Um dia, ele ajuda um corvo cego, mas descobre que os pássaros o veem como um ser maligno. Desesperado para mudar sua imagem, o espantalho tenta se comunicar com o fazendeiro, mas acaba sendo perseguido pelos aldeões que o veem como um monstro. Ele morre queimado em um moinho, mas suas cinzas são espalhadas pelos corvos, que decidem se vestir de luto em homenagem ao espantalho que queria ser seu amigo. Desde então, todos os corvos passaram a ser negros, simbolizando a perda e a saudade de um verdadeiro amigo.
Arte - Rafael Lessa Texto - Francisco Olivatto Locução - Antonio Lauriello
Clique na seta ao lado do texto, para visualiza -lo por completo.
Era uma vez um espantalho solitário que habitava um vasto campo de trigo. Feito de roupas velhas e palha, ele não tinha amigos e passava seus dias apenas observando os pássaros voarem. Os corvos, que eram os visitantes mais frequentes por aquele campo, nunca lhe davam atenção, pois viam nele apenas um ser assustador que os impedia de se alimentarem. O espantalho olhava-os com tristeza, desejando que um dia pudessem ser amigos..
Após muitos dias de solidão, o espantalho decidiu fazer algo inusitado: ofereceu sementes aos pássaros, na esperança de que eles reconhecessem sua bondade. Para sua desilusão, os pássaros continuaram a ignorá-lo. Uma noite, um corvo cego caiu aos seus pés, faminto e tremendo de frio. O espantalho, com compaixão, acolheu o corvo, trazendo-o para perto e oferecendo-lhe alimentos.
Com o passar dos dias, o corvo recuperou-se e, ao se preparar para partir, perguntou ao corvo por que os pássaros o temiam tanto,querendo saber o que havia de tão terrível nele. O corvo explicou que o papel dos espantalhos era assustar os pássaros, e que ele era visto como um verdadeiro monstro. O espantalho, ferido, tentou defender sua natureza bondosa, mas o corvo voou apavorado, deixando-o novamente em sua solidão.
Certa noite, decidido a mudar seu destino, o espantalho foi até o fazendeiro e, com uma voz trêmula, contou-lhe que não queria mais ser um espantalho que assustava as aves. Ao ouvir isso, o fazendeiro, aterrorizado, despertou vizinhos e todos acreditavam que alguma entidade maligna possuía o espantalho. Temendo o que não entendiam, tomaram uma ação desesperada e incendiaram o moinho onde o espantalho se escondia. O espantalho gritou por socorro, mas a multidão era insensível.
Quando ele finalmente sucumbiu às chamas, uma tragédia tomou conta do campo. Os corvos, incluindo o corvo cego que ele havia ajudado, souberam do que tinha ocorrido e sentiram uma dor imensa por não terem reconhecido a bondade do espantalho antes que fosse tarde demais. Em homenagem ao seu amigo perdido, os corvos coletaram suas cinzas e, em um ato simbólico, as espalharam nos céus. A partir desse dia, os corvos tornaram-se negros, numa lembrança eterna do espantalho que apenas desejava amizade e aceitação.
Assim, a história do espantalho nos deixa uma reflexão profunda sobre a amizade, a aceitação e as consequências de nossas ações. Ele pode não ter alcançado a felicidade e a aceitação em vida, mas sua memória viveu no coração dos corvos que, apesar de terem sido criaturas desprezadas, aprenderam uma valiosa lição sobre amor e empatia. E desde então, os espantalhos, embora ainda criados para proteger os campos, nunca mais foram vistos como monstros, mas como seres que, em seu íntimo, poderiam ansiar por companhia e amizade.
A lenda da múmia é baseada na figura da maldição de Tutancâmon, que surgiu após a descoberta da tumba do faraó em 1922 por Howard Carter. Após a abertura do túmulo, vários membros da expedição enfrentaram mortes misteriosas, o que gerou especulações sobre uma maldição que puniria aqueles que perturbaram o descanso do faraó. Relatos variados, incluindo a morte do financiador da expedição, Lord Carnarvon, por infecção severa após um acidente, alimentaram essa narrativa E a ideia de maldição persiste na cultura popular, influenciando filmes e literatura, perpetuando o mistério e o fascínio em torno das múmias.
Arte - Pedro Lucas Texto - Francisco Olivatto Locução - Francisco Olivatto
Clique na seta ao lado do texto, para visualiza -lo por completo.
Era uma vez, em uma pequena aldeia encravada entre as montanhas e desertos do Egito, um jovem arqueólogo chamado David. Fascinado pela história antiga e pelos mistérios do Egito, ele passava seus dias estudando hieróglifos e velhos papiros, sonhando em descobrir algo que mudaria tudo. A sua maior ambição era encontrar a tumba perdida de um faraó, que se acreditava estar guardada por uma maldição terrível.
Certa manhã, enquanto explorava os mercados locais, David escutou rumores de que um antigo túmulo havia sido descoberto nas areias próximas. A ansiedade cresceu dentro dele, e não perdeu tempo. Ele se juntou a uma expedição com outros arqueólogos na esperança de desenterrar segredos esquecidos.
A tumba estava escondida em um local remoto, camuflada sob camadas de areia e rochas. Quando finalmente foi aberta, uma sensação de pavor e empolgação tomou conta do grupo. À medida que entravam na câmara funerária, perceberam que as paredes estavam adornadas com as mais belas pinturas e hieróglifos, contando a história do faraó poderoso que fora enterrado ali.
No centro da câmara, estava um sarcófago imponente, coberto de joias e ouro. Quando as tampas começaram a ser levantadas, David mal podia conter a emoção. Mas, assim que o sarcófago foi aberto, uma brisa fria e arrebatadora atravessou a sala, como se os próprios deuses estivessem advertindo os invasores.
A lenda que acompanhava aquele faraó dizia que aqueles que perturbaram seu descanso eterno dariam início a uma maldição. O grupo riu nervosamente, pensando que se tratava apenas de um mito para assustar ladrões. Contudo, à medida que deixavam a tumba com artefatos e tesouros, sentiam um peso crescente sobre seus ombros, como se estivessem sendo observados.
Nos dias seguintes, estranhas aconteceram com os integrantes da expedição. Um a um, começaram a desaparecer ou a sofrer acidentes inexplicáveis. David, atormentado pela culpa e medo, começou a investigar o que poderia estar acontecendo. Ao reexaminar os hieróglifos na tumba, descobriu uma inscrição que dizia: “Acordará aquele que despertar a fúria do faraó”.
Enquanto a atmosfera se tornava cada vez mais tensa, David decidiu que precisava retornar à tumba e descobrir se a maldição era real. Ele estava determinado a devolver o que havia tirado. Naquela noite, sob um céu estrelado e uma lua cheia brilhante, ele se aventurou de volta, armado apenas com uma lanterna e a coragem que ainda lhe restava.
Ao entrar na câmara, o ar parecia denso e pesado. As paredes sussurravam histórias de tragédias passadas. Com o coração disparado, ele se aproximou do sarcófago, agora vazio, e em sua mente ecoavam os avisos de seus colegas. Mas David estava decidido. Ele murmurou um pedido de perdão e devolveu algumas das joias que havia retirado.
No mesmo instante, o ambiente mudou. A temperatura caiu, e uma presença parecia envolvê-lo. Ele ouviu um murmúrio vindo do sarcófago, sua lanterna piscou e apagou, mergulhando-o na escuridão. O silêncio foi quebrado por um som estranho, como um sussurro ecoando na câmara, e as sombras começaram a tomar forma.
David ficou paralisado de terror. A múmia do faraó, antiga e majestosa, começou a emergir das sombras, envolta em faixas que reluziam à luz da lua. O espírito do faraó parecia ansioso, seu olhar emanava uma mistura de fúria e tristeza. David, consumido pelo medo, tentou se afastar, mas seus pés estavam presos ao chão.
O faraó sussurrou em uma língua antiga, e as palavras cortaram o ar, mais afiadas que qualquer espada. Ele estava avisando David das consequências de seus atos; a maldição não era apenas um mito. Uma onda de terror tomou conta do arqueólogo, que finalmente conseguiu se libertar do transe, correndo apressadamente para fora da tumba, enquanto atrás dele a câmara se tornou um cenário de caos, com ecos de risadas antigas e vozes de ancestrais.
Ao chegar de volta à sua aldeia, David não encontrou descanso. Afetado pela experiência, ele decidiu abandonar a arqueologia e voltar à sua vida simples, mas não sem fazer uma última visita a um antigo sacerdote que poderia oferecer consolo e respostas.
Ao contar sua história, o sacerdote simplesmente balançou a cabeça. “Quando se lida com os mortos, deve-se respeitar os rituais e suas tradições. O egípcio acredita que a morte não é o fim, mas uma nova jornada. A maldição é um aviso, e você ouviu.” David, agora em paz, aceitou que algumas histórias devem permanecer enterradas, enquanto outras são ensinamentos dolorosos sobre o respeito entre a vida e a morte, entre os vivos e os mortos.
E assim, envolto em uma aura de mistério, a lenda da múmia continuou a vagar pelo tempo, ecoando pelo deserto, sussurrando sobre os segredos que estavam além da compreensão humana, aguardando pacientemente o próximo curioso que se atreveria a perturbar seu eterno descanso.
Jovem decide acampar e pescar próximo a um rio, ignorando avisos locais e alertas de perigo por parte de colegas e amigos: - falavam da existência de uma criatura aquática mítica que habitava rios e lagos daquela região.
Na pesca, passados alguns minutos, percebe não estar sozinho e que algo - ou alguém - sinistro o observava. E que, bem próximo, mantinha toques, contato físico.
Cada vez mais assustado, o jovem se vê envolvido em uma batalha de sobrevivência, contra uma criatura que parecia sedenta por sangue.
Arte - Antonio Lauriello, Texto - Francisco Olivatto Locução - Francisco Olivatto
Clique na seta ao lado do texto, para visualiza-lo por completo.
“- Não, não! Deixa a pesca pra lá!
Tem bicho aí. Bicho d’água perigooooso!! que pega a gente e some com a gente!”
Era esse o alerta pra todo aquele que tencionava nadar e pescar no grande rio que circundava a região.
Mas sempre havia alguém em desobediência àquele aviso e que partia pra uma convivência mais viva, bem próxima dele. E, mesmo sabendo que muitos dos que usufruíram de suas águas jamais voltaram, iam lá, pra nadar e pescar nele.
Certa vez, um jovem parte rumo a uma pescaria. Frente ao lago, sente o sossego, relaxa, estufa o peito e joga a isca.
Após alguns minutos, aguardando a visão de peixes, vê a sua concentração interrompida pelo puxar de suas pernas.
Assustado, curva-se para ver o que ocorria e vê, agarrando seu tornozelo, figura semelhante a uma tartaruga:
- Tinha pele verde e escamosa, bico afiado e garras pegajosas. E, na cabeça, um robusto casco no formato de uma tigela, no qual transportava porção considerada de água.
Assustado, percebendo a intensidade com que aquele bicho investia no seu tornozelo travou uma luta - um chega pra lá - com o animal que resistia, portando-se cada vez mais feroz, firme no propósito de dominar e, talvez, eliminar sua vítima.
No alto embate, o jovem pescador conseguiu identificar quem ou o quê tentava destruí-lo: era o KAPPA, animal predador que caça e mata outros seres vivos para se alimentar.
Na identificação da “intenção mortal” - hábito de sobrevivência natural daquele tipo de predador - o jovem pescador parte pra cima do bicho KAPPA, agarra-se no casco da cabeça, torce-a fazendo com que toda a água ali contida escorresse.
Percebeu que isso fragilizou o animal que, vulnerável, quase que sem força alguma, larga a sua presa e, em fortes e contínuos grunhidos, se joga nas águas escuras do profundo rio.
A lenda do lobisomem tem suas origens na mitologia grega, associada principalmente ao rei Licaão, que foi transformado em lobo por Zeus após sacrificar um humano em um banquete. Essa transformação, conhecida como licantropia, simboliza um castigo divino e reflete uma punição por condutas imorais. A narrativa se espalhou pela Europa, especialmente durante a Idade Média. No Brasil, a lenda foi trazida pelos colonizadores portugueses e sofreu adaptações, como a crença de que o sétimo filho de um casal, se nascesse homem, era destinado a se tornar um lobisomem.
Arte - Martim Mattos Texto - Francisco Olivatto Locução - Antonio Lauriello
Clique na seta ao lado do texto, para visualiza-lo por completo.
Era uma vez, em uma pequena vila cercada por altas florestas e montanhas, um homem chamado Nô. Ele era um trabalhador conhecido por sua coragem e dedicação, e costumava passar seus dias no engenho de açúcar local. No entanto, à noite, enquanto a lua cheia iluminava o céu, ele se tornava um ser completamente diferente.
A lenda dizia que Nô era um lobisomem, uma criatura mítica com a capacidade de se transformar em um lobo feroz, sedento de sangue. Acreditava-se que ele havia sido amaldiçoado por um pecado cometido em sua juventude, e agora, sempre que a lua estava alta, ele saía das sombras para caçar.
Certa noite, enquanto atravessava uma plantação, Nô ouviu um uivo distante que ecoava pela floresta. Curioso e um pouco apreensivo, decidiu seguir o som. Ao se aproximar, viu uma silhueta enorme contornada pela luz da lua: um lobo colossal, com olhos vermelhos que brilhavam como fogo. O coração de Nô bateu mais rápido; ele sabia que era o próprio lobisomem.
A criatura se virou, seus dentes afiados visíveis à luz da lua, e lançou-se em direção a ele. Nô, em um momento de puro instinto, ergueu uma faca que carregava consigo, pronta para defender-se. A luta foi feroz, com garras e dentes se chocando contra seu corpo, mas Nô, determinado a proteger sua vila, atacou com bravura e feriu a besta no pescoço.
Na manhã seguinte, a vila estava em alvoroço. Os moradores comentavam sobre a aparição do lobisomem que, segundo eles, estava levando crianças para o mato. Aqueles que conheciam Nô notaram que ele não estava em seu posto de trabalho. Preocupado, foi até a casa de seu amigo, João Severino, apenas para descobrir que ele estava doente. O que Nô não sabia era que, em sua luta, ele havia ferido Severino, o verdadeiro lobisomem da vila que, em busca de um lar, havia sido amaldiçoado.
Como um eco de dor e arrependimento, Severino revelou a Nô que a maldição do lobisomem podia ser transmitida. Assim que Nô teve conhecimento do que havia acontecido, ele passou a acreditar na lenda, e a partir daquele dia, um temor profundo se estabeleceu em seu coração. Ele decidira que, ao invés de viver no temor das sombras, faria o que pudesse para resgatar seus amigos e libertar a vila da maldição.
Contudo, a monstruosidade não se limitava à figura da noite. Naqueles dias sombrios, a lenda do lobisomem se tornou uma narrativa viva na vida dos habitantes, que passaram a contar histórias sobre a besta que rondava as noites de lua cheia, fazendo com que a vigilância e o cuidado se tornassem uma constante. As mães apressavam-se a batizar seus filhos logo após o nascimento, por medo de que os pequenos não estivessem seguros.
Nos meses que se seguiram, Nô, decidido a acabar com a maldição, buscou maneiras de enfrentar o lobisomem. Ele sabia que o único jeito de derrotá-lo era com prata, e começou a confeccionar balas feitas desse metal, enquanto tentava entender a história de Severino e a origem dessa maldição.
Na próxima lua cheia, Nô armou-se com suas balas de prata e esperou. A noite chegou e, com ela, o uivo do lobisomem. Agora, ele não era mais um simples espectador; estava determinado a encarar de frente a criatura que havia transformado suas noites em pesadelos. O céu brilhava com a luz da lua, e o confronto estava prestes a acontecer.
A história de Nô se tornou uma lição para todos da vila: a crença humana na mudança, no arrependimento e na luta contra o que é temido é tão poderosa quanto as lendas que nos cercam. E assim, na memória coletiva, o lobisomem não era apenas um monstro, mas uma imagem da luta interna que todos enfrentamos em busca de redenção e proteção.
E esta é a lenda do lobisomem, que vive nas histórias e nas noites de lua cheia, lembrando-nos que nem toda sombra é um mal, e que a coragem pode iluminar até os caminhos mais sombrios.
O Megalodonte (Otodus megalodon) foi o maior tubarão que já existiu, um predador pré-histórico que dominou os oceanos do Mioceno Inferior ao Plioceno (há aproximadamente 23 a 3,6 milhões de anos) antes de ser extinto.
Arte - Danilo Mocillo Texto - Francisco Olivatto Locução - Francisco Olivatto
Clique na seta ao lado do texto, para visualiza-lo por completo.
O porto de Itajaí acordou com o ar pesado de vento de fim de tarde. As redes já estavam estendidas entre os barcos, que balançavam ao ritmo do Atlântico. Entre a espuma e o cheiro de peixe, começaram a circular boatos silenciosos: uma sombra subia, rompendo a linha do horizonte, e uma barbatana dorsal, gigantesca, cortava as ondas como uma lâmina de aço.
O primeiro a falar foi Zeca, velho pescador que já viu marés secas e tempestades em que o céu parecia rasgar-se em dois. “Foi uma sombra tão grande que parecia abriga-los sob a água”, disse ele, apontando para o norte, onde o oceano parecia se esticar até o infinito. “Um peixe-demônio de mil era a barbatana que vi.” Os outros riram, mas havia um tremor nas vozes que não poderia ser ignorado.
Na segunda noite, os pescadores começaram a ouvir relatos replicados entre as ondas: alguém jurava ter visto uma dorsal maior que o casco de um barco, desenhando no ar uma linha larga de água e medo. O Megalodonte, como começou a ser chamado pela imprensa não oficial e pelos pescadores, não parecia apenas um animal; parecia a própria memória do oceano, uma criatura que, segundo as lendas, dominava rotas comerciais e guardava os segredos dos recifes.
Alguns disseram ter sentido uma mudança no comportamento das águas: correntes que antes guiavam as redes pareciam agora desenhar círculos de incerteza. Outros lembraram da antiga história das tribos costeiras que viam o monstro como guardião dos mares, um ser tão antigo que o tempo parecia não tocá-lo — apenas o respeito poderia atravessar o encontro.
A cada avistamento, o medo crescia: não era apenas o risco de uma criatura gigantesca, mas o que esse encontro significava. Se o Megalodonte ainda vagueava pelas profundezas, poderia ele decidir, num instante, erguer-se e mergulhar de volta, levando com ele o equilíbrio das rotas de pesca? Os homens falavam baixo, evitando olhar para o mar ao pôr do sol, como se o oceano pudesse ouvir cada palavra dita em voz alta.
As noites no cais tornaram-se longas. Lanternas tremeluzentes, caldos ferventes, e histórias repetidas em sussurros foram substituídos pelo silêncio tenso de quem sabe que o mar guarda segredos que não devem ser revelados.
Foi numa manhã de neblina que tudo mudou. O mar se adensou, o horizonte minguou e, entre as brumas, uma barbatana dorsal bordejou a superfície. Não foi apenas uma visão: foi uma presença que fez o tempo parar. Os barcos reclinaram, as velas estalaram, e um silêncio quase sagrado tomou conta do cais.
Os pescadores, já acostumados a ouvir tudo, sentiram o peso de uma memória ancestral. Em vez de gritar, sussurraram nomes que não diziam respeito ao presente, como se invocassem proteção de outrora para enfrentar o que estava diante deles. A barbatana desapareceu tão rápido quanto apareceu, deixando para trás apenas o eco de uma ameaça antiga.
Desde aquele dia, Itajaí passou a viver entre a lembrança do Megalodonte e o compromisso com a própria coragem. As redes continuam a brilhar sob o sol da manhã, mas há quem diga que, quando o oceano está quieto demais, algo vai acontecer…
Era 1995, em Porto Rico, pela primeira vez ouvia-se aos
berros de pavor: “ Foi o CHUPA CABRA!”.
Nascia, assim, uma lenda contando histórias de uma criatura – terrestre? ou extraterrestre? – de corpo pesado e forte, olhos enormes avermelhados, pele cinza esverdeada,
cauda longa revestida por espinhos da cabeça aos pés.
Na noite, em matas densas, dava vazão ao seu instinto daninho, estraçalhando, sugando sangue de animais em pasto: preferencialmente CABRAS.
Arte - Antonio Lauriello Texto - Antonio Lauriello Locução - Antonio Lauriello
Clique na seta ao lado do texto, para visualiza-lo por completo.
MÉÉÉ..., MÉÉÉ...!
Um balir de medo, muito medo – pavor – ecoava repetidamente por um agrupamento de habitações em local distante do centro principal, encobrindo até mesmo o som do badalar dos sinos da igreja.
Noite chegara e a mata já de toda densa, tomada por densa escuridão, se via invadida por pesadas e ligeiras pegadas no encalço de rastros deixados por animais daquele pasto – um gado caprino.
Alvoroço animal ! Caça e caçador em duelos: ataques X defesas, ação e reação, poeira, folhas, galhos mexidos-remexidos, estalos de dor característicos de articulações
em atritos, quebradas, estouradas.
Cenário trágico na cor, no som, no cheiro-fedor de dor.
Em curto espaço de tempo, o bééé, bééé antes contínuo perde a intensidade, dando lugar a um “silêncio-medo”.
Pseudo calma.
Agora, o que se via era uma representação do contorno de
uma ... pessoa? Não, não! De um objeto? Nããão!
De tudo o que existe ou possa existir de algo corpóreo?
Será?
Podia ser tocado, percebido pelos olhos, pelo cheiro e ... pelo som: arfava em ritmo nadanormal, com esforço, com o que sugando algo.
Simmm..., sugava, sugava e sugava um volume definido, porém sem forma própria: um líquido venoso-carnívoro:
SAAANNNGUE !
Sim..., sangue que corria-escorria pesado do corpo dacaça-cabra. Sangue transformado, mastigado, salivado, deglutido.
Sangue chu-pa-do pela criatura-fera CHUPA CABRA.
Direção
Thyago Bastos
Texto:
Francisco Olivatto, Antonio Lauriello
Ilustração de capa:
Emílio Catrufo
Design Editorial
Adriana Oshiro
Ilustração
André Sigora, Antonio Lauriello, Arthur Arri, Emílio Catrufo, Guilherme Terrabúio, Francisco Olivatto, Danilo Mocillo, Gabriela Castelo, Gabriela Parente, Lorenzo Batista, Luís Ayala, Pedro Féres, Pedro Coelho, Pedro Lucas, Pedro Gonçalves, Maya Costa, Martim Mattos, Salviano Borges e Rafaella Mozz e Thyago Bastos.